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  • Foto do escritorVanessa Leite

Misturar diferentes dietas pode causar efeito contrário, diz nutricionista

Especialista explica por que as substituições no plano alimentar por conta própria podem impactar a beleza e a saúde.

Um pãozinho com ovo não é o mesmo que um bolinho feito com ovo, assim como um peito de frango não é equivalente a um hambúrguer de frango. Quando as pessoas fazem por conta própria pequenas substituições como estas dentro da dieta que havia sido indicada pelo nutricionista, há um grande risco de acabarem se afastando dos seus objetivos e, de quebra, se desmotivando a continuar com o plano alimentar. Este é o alerta que faz a nutricionista de Porto Alegre Vanessa Leite, pós-graduada em obesidade e emagrecimento:

— Tem muita coisa por trás da prescrição de uma nutricionista que de fato está preocupada com a saúde e com o resultado. Quando eu calculo uma dieta, levo em consideração o sabor, a saciedade, o fato de não gerar vontade de comer doce nem carboidrato e penso em não perder massa magra. Por isso que não são legais essas atitudes de “dar o meu jeitinho”, ou então “a nutri disse para comer isso, mas vou comer aquele outro” — afirma Vanessa.

Decidir modificar o plano que havia sido elaborado por um profissional especificamente para você pode ter efeitos diferentes dos desejados, como falta de nutrientes, excesso de gorduras e até compulsão alimentar. No bate-papo abaixo entre Donna e Vanessa Leite, a profissional explica a importância de respeitar diferentes métodos de dieta, evitar substituições erradas de alimentos e tomar cuidado com restrições excessivas.

Antes, porém, ela faz um adendo: defende que é preciso desmistificar a palavra dieta e não entendê-la como sinônimo de “restrição”, “punição” ou “proibição”, mas sim de “organização alimentar”. Cada plano cumpre uma função diferente, como ganho de massa magra, emagrecimento, ganho de peso, prevenção e tratamento de doenças.

Porque é importante não misturar dietas nem alterar o plano elaborado pelo nutricionista?

Sou uma profissional que adora usar nomenclaturas, como “dieta de definição”, “dieta do champagne”, e cada uma tem a sua lógica. Na da erva-mate, que conta com o componente termogênico desse produto, vou poder colocar um pouco mais de alimentos com carboidratos. Já na do vinho, a composição muda muito, pois, sendo um plano em que a gente vai ter a presença dessa bebida, será preciso equilibrar, colocando mais proteínas, reduzindo os carboidratos e fazendo suplementação.

Em algumas metodologias, vamos ter mais ingestão de proteínas, em outras mais carboidratos, em algumas vamos comer em horários diferenciados etc. É preciso respeitar as diferentes metodologias para ter resultado. Cada dieta vai ter o seu raciocínio e o paciente precisa entender o porquê do seu plano alimentar para não desistir e não começar a fazer trocas inadequadas. Outra coisa que tem que ficar clara: se sou paciente da nutricionista X, não posso misturar com o método da Y, pois cada uma tem o seu método.

O que seriam trocas inadequadas?

Várias vezes, vêm perguntas como “a banana, eu posso trocar por ovo?”. Não, ovo é proteína, banana é carboidrato, são coisas diferentes. Ou então eu prescrevo à paciente um filé de frango, mas aí ela vai numa loja de “produtinhos fitness” e troca por um hambúrguer de frango — que talvez tenha na sua composição ricota, aveia e outros ingredientes.

Isso é um problema, pois levei em conta um número “X” de gramas de proteína, sem carboidratos. Então, todas essas combinações que a pessoa faz por conta são perigosas e podem ter impacto negativo no resultado esperado. Na minha opinião, as pessoas que mais se enrolam no emagrecimento são as que vivem em casas de produtos naturebas procurando o cookie diferente, o bolinho diferente. Elas querem ter o alívio de estar pagando por algo que é saudável, mas no fundo é uma enrolação. É um produto saudável, mas tem as proteínas e os carboidratos de que tu precisas? Possivelmente não. Temos que tomar cuidado com o produtinho fit, a receitinha fit. A gente pode fazer invenções, sim, mas nada de “dar o seu jeitinho”. É preciso orientação.

Eu sei que parece que a gente deveria saber o que comer, afinal nos alimentamos todos os dias, mas não é verdade. Esses dias recebi uma mensagem dizendo: “Vanessa, para emagrecer não interessa o que comer, é só comer pouco”. Realmente, se a gente comer pouco a gente vai emagrecer, mas será que vai ser saudável? Será que não estarei perdendo massa magra? Se eu comer, mesmo que em pequenas quantidades, somente carboidratos e não comer os nutrientes necessários, eu vou perder massa magra. Se eu comer coisas que tenham açúcar, mesmo que pouco, poderei ter um descontrole ou desenvolver uma compulsão alimentar. Então para que a gente tenha um resultado seguro e definitivo, não é fazendo de qualquer jeito.

Trocar de dieta de tempos em tempos pode ser benéfico?

Sim. Adoro variar as dietas, porque, quando há a troca, o paciente gosta e fica entusiasmado, é uma novidade que ajuda a não enjoar e a ficar feliz. Mas mais do que isso, trocar de dieta é importante para resultados. Se ficamos sempre fazendo a mesma dieta, seja ela para emagrecer ou para ganhar massa magra, pode ocorrer o efeito platô em que a pessoa não emagrece mais ou não ganha mais massa magra. Precisamos de estímulos diferentes.

Como você avalia as dietas sem glúten ou sem lactose?

A maior parte dos alimentos sem glúten que estão no supermercado são feitos de farinha de arroz branco, que é refinado. Ao comer coisas refinadas, a gente libera mais açúcar no sangue, mais insulina, o que gera mais fome, mais acúmulo de gordura no corpo e diminui a queima de gordura, o que não é legal.

Os alimentos sem glúten são focados em quem tem alguma intolerância ou alergia. O mesmo ocorre no caso dos sem lactose: eles têm uma enzima para facilitar a digestão, só que com isso, a pessoa libera mais açúcar no sangue, mais insulina e diminui o emagrecimento. Muito cuidado com os modismos. O jejum, por exemplo, se for mal orientado, pode provocar a perda de massa magra, gerar transtornos alimentares e inclusive causar morte.

Há combinações de alimentos que não funcionam bem para o organismo?

Existem algumas que são perigosas e podem fazer a pessoa engordar. Por isso, o ideal é guardá-las para as refeições livres. Misturar alimentos refinados com álcool é algo que engorda, por exemplo. É o caso da massa branca com molho de tomate harmonizada com um vinho, ou então da cerveja. Refinados junto com gorduras também podem fazer engordar, uma combinação encontrada em alimentos como chocolate, pizza, hambúrguer, massa branca com molho de queijo.

Essas são algumas misturas com as quais temos que tomar cuidado, mas nada de ficar proibindo também. Isso porque, quando a gente proíbe, gera mais vontade, mais desejo, a comida ganha um valor maior do que ela deveria ter e aí causa descontrole e compulsão. A flexibilidade alimentar é o segredo da imortalidade de um estilo de vida saudável.

Quais seriam os pontos-chaves para o bom funcionamento da dieta?

É essencial perder o medo da palavra “dieta” e buscar a orientação personalizada de um nutricionista, isso encurta caminhos. Também é válido mudar a dieta de tempos em tempos para evitar o efeito platô. Além disso, é preciso olhar pra o comportamento alimentar do paciente, observando como é sua relação com o alimento e a bebida. Trabalhar a nutrição emocional faz toda a diferença, pois não adianta calcularmos uma dieta perfeita se o paciente não tiver uma boa relação com a comida, o que o impedirá de seguir o plano e ter resultado.

Dormir bem é essencial, pois faz o metabolismo e os hormônios funcionarem melhor e assim conseguimos queimar mais gordura e ter menos ansiedade. A hidratação também é fundamental para desintoxicação, sensação de saciedade e bom funcionamento do organismo — muitas vezes, a gente acha que está com fome, mas é só falta de hidratação.

E a atividade física também é ótima para a prevenção de doenças e melhora do metabolismo, mas temos que levar em conta a realidade de cada um. Tem pessoas que não conseguem malhar, porque estão impossibilitadas, seja de tempo ou de saúde, e elas não devem desistir da alimentação, afinal nós somos o que ingerimos e absorvemos.



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